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04 de setembro de 2025

Economia Feminista, Saúde e Cuidado: os Desafios das Empreendedoras em Cuiabá

Artigos 01/01/2025 15:38 Dra Silviane Ramos que tbm é jornalista e escreve para este jornal

A economia feminista parte do princípio de que o trabalho das mulheres vai muito além do espaço produtivo formal.

Ela considera que o cuidado — com a família, a comunidade e consigo mesma — também é trabalho e precisa ser reconhecido como parte essencial da sustentação da vida e da economia.


Em Cuiabá, uma pesquisa realizada pelo grupo da UNEMAT identificou que 43,7% das mulheres da capital atuam como empreendedoras, movimentando a economia local em diferentes áreas, especialmente no comércio, na alimentação, no artesanato e nos serviços. Esse número expressivo revela tanto a força quanto os desafios que atravessam o cotidiano dessas trabalhadoras.


Grande parte das empreendedoras cuiabanas conciliam a gestão dos seus negócios com a responsabilidade doméstica e familiar. A “dupla jornada” — ou até “tripla”, quando somada ao cuidado de idosos e pessoas com deficiência — gera impactos diretos na saúde física e emocional dessas mulheres.


Estudos em saúde coletiva mostram que o estresse, a sobrecarga e a falta de tempo para o autocuidado estão entre os principais fatores que levam a doenças crônicas, ansiedade e depressão. No caso das empreendedoras, essa condição pode ainda comprometer sua saúde financeira, já que períodos de adoecimento resultam em queda de produtividade e de renda.


Sob a perspectiva da economia feminista, é fundamental que políticas públicas e redes de apoio considerem:

- A valorização do cuidado como parte do trabalho social e econômico.
- Acesso a crédito diferenciado e políticas de microfinanças sensíveis às desigualdades de gênero.
- Programas de saúde preventiva direcionados para mulheres empreendedoras, contemplando desde o acompanhamento ginecológico até apoio em saúde mental.
- Capacitação e redes de apoio que auxiliem na gestão do tempo, organização financeira e equilíbrio entre vida pessoal e trabalho.


Nos últimos anos, iniciativas como o Qualifica Cuiabá e a Feira Viva Mulher têm buscado oferecer capacitação técnica e oportunidades de geração de renda. Ainda assim, a falta de políticas específicas de cuidado — como creches em tempo integral, linhas de crédito acessíveis e programas de saúde voltados ao perfil das empreendedoras — permanece como um obstáculo central.


Reconhecer a relação entre economia, saúde e cuidado é fundamental para compreender a realidade das empreendedoras cuiabanas. Mais do que gerar renda, essas mulheres sustentam famílias inteiras e movimentam a economia local. Ao mesmo tempo, enfrentam desafios que só podem ser superados com políticas públicas sensíveis às questões de gênero e com uma sociedade que valorize o cuidado como parte da riqueza coletiva.


Assim, ao olhar para os 43,7% de empreendedoras em Cuiabá, não vemos apenas números: vemos trajetórias de resistência, criatividade e luta por dignidade, que só poderão florescer plenamente quando a saúde e o cuidado forem tratados como parte indissociável da economia.