28 de abril de 2024 - 16:55

Brasil

Mais de 40h de apagão 20/03/2024 10:49 G1

Moradores do Centro de SP perdem medicamentos e comerciantes amargam prejuízos após mais de 44h sem energia

Enel afirma que falta de luz teria iniciado devido a obra da Sabesp. Estatal diz que análises preliminares não identificaram relação com o trabalho da companhia. Até as 19h desta terça, a Enel tinha retomado o fornecimento de energia para 98% dos clientes da região.

Passadas mais de 44 horas da queda de energia que atingiu a região central de São Paulo na segunda-feira (18), parte dos moradores de bairros como Vila Buarque e Santa Cecília continuam sem energia elétrica na manhã desta quarta (20).

Pelo menos 2% dos clientes afetados pelo apagão seguem no escuro, segundo a própria Enel (veja mais abaixo).

A falta de luz tem causado perdas e transtornos enormes para os moradores da região. A analista de treinamento Tauna Santos, por exemplo, tem uma doença autoimune que afeta o sistema gastrointestinal.

Se ela ficar sem os medicamentos biológicos, a doença pode se agravar, gerando mais dores e inflamações por todo o corpo.

Nesse mês, a analista não vai poder tomar o medicamento de alto custo no prazo certo, porque as ampolas da próxima infusão estragaram em função da falta de energia.

"Vai ser complicado porque o hospital é Santa Casa. Vi que eles estavam cancelando consultas e reagendando. Vou ter que pegar encaixe lá, falar com minha médica, pegar nova receita e solicitar novamente na farmácia de alto custo. Querendo ou não vou, atrasar a aplicação de uma infusão”, disse a analista.

“Tenho doença de crohn. Quando fico sem a medicação, além das crises do próprio crohn, começo a ter dor na articulação, minha qualidade de vida fica comprometida”, disse Tauna.

Junto com a medicação, tudo que estava na geladeira da casa dela também vai ter que ser jogado no lixo. Na torneira, nenhum pingo d'agua, porque as bombas que levam a agua aos apartamentos estão desligadas.

"A situação está precária aqui. A gente tá sem energia aqui desde as 10 horas de segunda-feira. E hoje o dia foi bem corrido mesmo, porque faltou água no nosso reservatório, e em muita idosa q tava precisando de ajuda e a gente ficou o dia todo correndo atrás do problema”, disse o zelador Marcelo Gomes.

Na mesma rua, os hospedes desse hotel não aguentaram o calor sem ar condicionado. O jeito foi ficar do lado de fora na expectativa que a luz voltasse.

"Tá triste. Não tem nem como ficar no quarto pra mexer no celular, fica todo mundo aqui fora", disse o garçom Leonardo Alves.

"O que está acontecendo é uma falta de respeito total com a população. A gente não consegue dormir, tem muriçoca, muito calor. Tá muito quente mesmo”, disse a gerente do hotel, Alexsandra Andrade.

Em algumas ruas do centro, a energia até voltou no meio da tarde. mas nesse prédio, logo caiu de novo. Os moradores ficaram presos no elevador por quase uma hora. Para os comerciantes, mais prejuízo.

"Só em sorvete o prejuízo foi de R$ 2.500. Tem o iogurte também lá atrás, que pode jogar fora já. Não tem como, ninguém troca, não tem como aproveitar, amoleceu palito soltou, já era. ", disse o comerciante Eupídio Gomes Parente.

 

Início do drama

Pelo menos 35 mil usuários da rede foram afetados, segundo diretores da própria Enel. Casas e comércios e três hospitais ficaram no escuro.

Além da Santa Casa de Misericórdia, na Santa Cecília, o Hospital Santa Isabel e o Instituto do Câncer Doutor Arnaldo Vieira de Carvalho mantiveram as atividades essenciais a base de geradores.

Uma obra na rua General Jardim, na Vila Buarque, que pode ter sido a causa do apagão segundo a concessionária Enel, terminou antes que a luz voltasse em alguns imóveis. Até agora, ninguém assumiu a culpa pelo problema.

A Enel diz que a Sabesp puxou a fiação subterrânea durante uma reforma da tubulação de esgoto, que passa no mesmo ponto. E a Sabesp nega qualquer ligação entre o serviço e o apagão.

Na noite desta terça-feira (19), técnicos da Enel também trabalhavam na rua Martim Francisco. A fumaça que saia da tubulação passava dos 50 graus, segundo testemunhas. Mas nada de prazo para a luz voltar em parte das ruas no Centro.

Jogo de empurra

Apesar da promessa de Enel de restabelecimento total da energia na capital paulista até as 8h30 desta terça-feira (19), parte dos moradores do Centro de São Paulo seguem sem luz há mais de 30 horas. Até 19h, a concessionária informou que restabeleceu o fornecimento para 98% dos clientes de cinco bairros: Higienópolis, Bela Vista, Cerqueira César, Santa Cecília e Vila Buarque.

Segundo a Enel, o apagão teria iniciado a partir justamtente da obra da Sabesp na Vila Buarque. Funcionários da companhia de abastecimento de água teriam puxado a fiação subterrânea durante uma escavação.

Funcionários da Enel atuam no Centro de SP — Foto: Reprodução/TV Globo

Funcionários da Enel atuam no Centro de SP — Foto: Reprodução/TV Globo

"O que a gente identificou, até o momento, foi essa obra que danificou essa rede. Não houve a falha nesse ponto, e sim na caixa adjacente, onde foi tracionada as nossas emendas que são plugáveis. Então, quando houve o tracionamento acabou desplugando, óbvio que ela tem presilhas, não é uma coisa tão simples assim para ser desconectado, mas de fato foi o que ocorreu", afirmou Darcio Dias, diretor da área de manutenção da Enel.

Mas a Sabesp nega a acusação.

 

“A Sabesp de fato fez a escavação no local, existia sim, uma rede de energia elétrica, mas a princípio, por avaliações que nós fizemos, não houve um dano naquele local, na rede de energia elétrica. Contudo, nós estamos atuando em parceria, com as equipes a disposição para resolver o problema”, ressaltou Maycon Abreu, superintendente da Sabesp.

Equipes da concessionária e da Sabesp trabalham em parceria para analisar as causas da interrupção. Mas não deram previsão de quando vão religar a luz para todos os clientes afetados.

Cerca de 1% dos cabos de energia elétrica na capital é subterrânea e essa parcela está justamente na região do Centro. Na Rua General Jardim, onde fica a obra da Sabesp, moradores estão sem luz e sem água, já que a área está sem energia para bombear a água para os prédios.

Enquanto ninguém assume a responsabilidade, moradores e comerciantes continuam contabilizando os prejuízos.

 

“Perdi quase R$ 3 mil pela falta de energia. Perda total, e eu que vou ter que arcar com o prejuízo”, afirma o comerciante Eupídio Gomes Parente.

A região de Pinheiros, na Zona Oeste, também ficou sem luz nesta terça. A unidade do Sesc suspendeu as atividades. Em nota, a Enel informou que a "energia foi restabelecida no local às 20h20".

A obrigação de fiscalizar a Enel e a qualidade do serviço que ela presta é da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), já que é o governo federal o responsável pela concessão. Mas existe um convênio assinado entre a Aneel e a Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp), que fiscaliza serviços públicos do estado. Com esse convênio, as duas agências fazem a fiscalização da concessionária.

 

O que dizem as duas agências?

A Arsesp informou que tem 23 fiscais que acompanham o trabalho das distribuidoras que atendem o estado. Em agosto, durante a CPI da Enel na Alesp, os diretores da agência afirmaram aos deputados que “a concessionária paulista cumpre, na média, os indicadores de qualidade no fornecimento de energia elétrica”.

Já a Aneel informou que aplicou mais de R$ 320 milhões em multas à empresa, desde 2018. A maior delas foi neste ano: R$ 165 milhões, pela demora para restabelecer a energia, depois do temporal que atingiu a grande São Paulo, em novembro do ano passado. No entanto, a Enel entrou com um recurso administrativo e ainda não pagou o valor.

Na ocasião, cerca de 2,1 milhões de imóveis ficaram sem energia após tempestades no estado.


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