A qualidade da Justiça Divina, equilibradora, é mantida pelo orixá Xangô, que purifica nossos sentimentos com sua irradiação incandescente, abrasadora e consumidora das emotividades. Xangô é a força coesiva que dá sustentação a tudo. Ele está na natureza como o próprio equilíbrio, tanto na estrutura de um átomo quanto no universo e em tudo que nele existe.
Pai de Santo Dionildo Campos destaca a dupla importância de saudar Xangô visto que advoga e é sacerdote de umbanda, e segue explanando sobre os simbolismos contidos nos atributos de Xangô: “a Justiça é a virtude de dar a cada um aquilo que é de seu merecimento. Olorum (Deus) é justo e gera tudo com equilíbrio. No sentido da justiça, todos nós temos os mecanismos mentais necessários para desenvolvermos condutas equilibradas e adquirirmos posturas pessoais sensatas e racionais, anulando nossa emotividade e nosso instintivismo primitivo. Para isso somos dotados do livre-arbítrio, quando encarnamos”.
Em suas ponderações o sacerdote umbandista conclui que: “quem absorve as qualidades do Pai Xangô, torna-se racional, ajuizado, ótimo equilibrador do seu meio e dos que vivem à sua volta. A escolha racional nos leva ao equilíbrio da alma, pelo conhecimento da Lei que nos rege e nos diz o que é certo e o que é errado na vida. Esta Lei não é cega ou falível, pois se ensinarmos errado, seremos colhidos por ela, que exige muito de quem conhece os mistérios da razão. Mas, se trilharmos no equilíbrio da Lei, iremos adquirir uma fé inquebrantável no que fazemos e no que falamos e nada será feito ou dito em vão; tudo terá sua razão de ser. Como podemos entender no Manual de Umbandista de Rubens Saraceni”.
Giulianna Altimari relata que: “ seguindo a tradição da Tenda Umbandista e Centro Espírita Pai Jeremias - Seara de Vó Baiana, da Mãe de Santo Maria José da Silva Matos, o Centro Nossa Senhora do Carmo, coordenado por Mãe Gilda Portella, homenageou o Orixá Xangô, com orações, cânticos, oferendas, velas e pontos cantados, além da tradicional rabada com quiabo e polenta, servida aos presentes”.
O Caboclo Sete Pedras, de Xangô, um protetor dos trabalhos do Centro Nossa Senhora do Carmo, irradiou sua vibração de força e luz nos trabalhos de passe e orientação que precede às homenagens festiva, que é agradecimento às bênçãos, proteção, ensinamentos e direção da força do Orixá da Justiça.
A sacerdotisa de Umbanda Giulianna Altimari menciona: “o ritual reverenciou Mãe Maria José da Silva Matos, que ao longo dos últimos 67 anos se dedicou aos filhos espirituais e consulentes que nela encontraram porto seguro para angustias e perplexidades com que a Vida nos aprimora. Até no último dos seus oitenta e cinco anos de vida, exemplificou fé e compaixão, expressão de amor que é o legado espiritual dos seus filhos de santo. A festa de Xangô (30 de Setembro) foi assim, despedida e agradecimento à Mãe Maria Matos que após a passagem para Aruanda, vai cuidar dos filhos ao lado de Oxalá. Festividade regada com gratidão e saudade, pois Umbanda é caridade, acolhimento, ensinamento, e perene gratidão pelo que recebemos do plano maior da Vida, sustentadora do plano físico”.
A Gratidão é sentimento de reconhecimento e valorização do bem que a vida, ou alguém fez por nós. Em latim gratus, significa agradecido, e gratia, significa graça, bênção ou dádiva. A gratidão é sentimento poderoso e transformador, que nos dá uma perspectiva mais positiva da vida, ampliando nosso bem-estar emocional.
A festa de Xangô expressa agradecimento e alegria, cristalizando em nossa alma fé, amor, conhecimento, justiça, ordem, evolução e geração seguindo a Lei de Olorum. Salve Xangô!
Trecho do Livro Rituais na Umbanda: velas e símbolos de Giulianna Altimari e Dionildo Campos.
Elementos de Xangô:
- Sincretismo: São Jerônimo;
- Fator: Equilibrador;
- Vela: Marrom escuro, dourado, vermelho, vermelho e branco;
- Flores: Flores do campo marrom e vermelho, cravos vermelhos e brancos e palmas;
- Frutas: Marmelo, mamão, melão, melancia, abiu, abricó, fruta-do-conde;
- Bebida: Cerveja preta, vinho tinto doce, vinho tinto seco, licor de ambrosia, água mineral;
- Pedra: Jaspe vermelho, bauxita e pedra do sol;
- Dia da semana e Data comemorativa: Quinta – feira e 24 de junho;
- Saudação: “Kaô Kabecilie”!
- Chacra: Laríngeo;
- Ponto de força: Montanhas, pedreiras e beira das cachoeiras;
- Símbolos: Machado duplo – Oxé, estrelas de seis pontas, balança, o livro dos reis;
- Polaridade: Egunitá/Oro Iná;
- Irradiação: Justiça
- Atributos: Sabedoria, amor, prudência, respeito á vida em obediência ás leis de Deus, entendimento do encantamento de nossas ações e reações, que estabelecem uma relação de causa e consequência no sentido de ascensão espiritual (equilíbrio cármico).
Ponto cantado:
No alto daquela pedreira tem esse filho
E ele é de Xangô. (bis)
Kaô, Kaô, Kaô que quer dizer Xangô. (bis)
Oração a Xangô:
“Poderoso Orixá de Umbanda, pai, companheiro e guia, Senhor do equilíbrio e da justiça, auxiliar da Lei do Carma, só vós tendes o direito de acompanhar, pela eternidade, todas as causas, todas as defesas, acusações e eleições provindas das ações desordenadas dos atos puros e benfazejos que praticamos. Senhor de todos os maciços e cordilheiros, símbolos e sede da Vossa atuação planetária no físico, no astral e no mental. Soberano senhor do equilíbrio e da equidade, velai pela inteireza do nosso caráter. Ajudai-nos com Vossa prudência. Defendei-nos das nossas perversões, ingratidões, antipatias, falsidades, inconteção da palavra e julgamento indevido, dos atos dos nossos irmãos em humanidade. Só Vós sois o grande Julgador. Axé”!
Por Gilda Portella, sacerdotisa de umbanda, multiartista e mestranda PPGECCO/UFMT